sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Lascívia nuestra

Insónia minha, beija-flor atordoado.
Pernoitas em meu ventre seco, ainda que habitado pelo ardor eloquente que envolve o apetite de te tomar.
Conservo teu feto pesado constituído pela terra de teu sangue. Espasmo de contracções permanentes.
Contorcida me deixo embalar pelo tresvario prazeroso... vórtice de nós. Voragem louca que se exercita em mim, anulação plena da ausência que reúnes.

Sorves-me dia após dia. Noite após noite.

Perdi-te, e logo te (re)inventei. Necessidade tresloucada, adormecida em meu peito amputado, pela carência de ti. Inexistência atroz, objecto perdido. Meu corpo, palpitante, num desejo insaciável pelo desaparecimento carnal a que te infligiste, claustro que me impuseram.
Desejo impunente que a morte teima a custo dissipar. Sucesso derretido pelo calor que me compenetra as carnes. Insucesso.

Acordo a meio da noite, quando consigo dormir. Abro os olhos e vejo-te a meu lado. Trajas o desejo de me ter. Ao toque te evaporas, afogado na minha impureza suja, imperdoável por te ter deixado morrer.
A terra que ocupa o teu lugar asfixia-me. Castigo meu. Demónio impostor que se aproveita de teu corpo impotente de me beber.
Minhas carnes que ansiaste possuir e que na verdade sempre te pertenceram. Prosa espiritual contrastante com o latejar fervoroso que me enlouquece... tresvario dormente que se apossava de ti na noite fatídica da nossa fuga inglória.

Concupiscência interrompida.

Prosas diferentes, exercício comum assentido por ambos.

A loucura compraz-me, pelo delírio delicioso de uma realidade irreal. Decrépita já me encontro, pela necessidade que tenho de te amar. Regalo meu, impulsionado pela inelutável força que compreende esta paixão de ti. Alívio tentador, ainda que mortífero.
A sentença está tomada.

Não me é possível amar-te mais, Leonardo.
Não me esqueças que eu nem sei o que isso é, tento viver em ti para suportar os estilhaços de meus pés nus, queimados na terra quente da tua ausência presente.

Amo-te, senhor meu. Pois de bom grado me entregaria à morte se ela não encerrasse um fim absoluto.

Siempre, novia.





(sussurro entrecortado)

Leo... te siento... ahora.

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