quinta-feira, 18 de junho de 2009

A origem da expressão "Merda" no Teatro...

Quem vive no mundo do teatro, dificilmente não diz "merda" antes de entrar em palco. O que muitos não sabem é onde essa expressão teve origem.
Esta expressão, que pode ser considerada uma espécie de ritual usado pelos actores antes das suas apresentações, tem origem francesa.
Mas antes de contar como surgiu esta expressão, torna-se necessário falar um pouco destes desavergonhados, que não tem medo de colocar uma roupa feia ou pintar a cara, que não tem preconceito em expôr um papel interpretando outro sexo ou até mesmo, mostrar um outro lado que existe em algumas pessoas, mas que estas têm vergonha de assumir devido a uma sociedade ainda preconceituosa.
O actor interpreta no palco aquilo que nós queremos fazer na vida real, mas temos vergonha. O que no dia a dia é um absurdo, no palco é natural, cómico. Actuar é a arte de viver num mundo onde tudo é possível.
A expressão “merda” usada no teatro surgiu na França. Um actor iria apresentar a peça mais importante da sua vida, estava nervosíssimo, pois na plateia estariam os mais importantes críticos da cidade. No percurso desde a sua casa até ao teatro encontrou muitos obstáculos. Primeiro, deparou-se com um incêndio, do qual teve que se desviar e acabou por se perder. Como "todos os caminhos vão dar a Roma", finalmente conseguiu chegar ao teatro. Na porta do teatro para completar as suas asneiras, pisou um cócó. Entrou, actuou e saiu muito feliz com a sua melhor actuação de sempre.
Assim, a expressão “merda” tem o mesmo significado de boa sorte e é sempre usada antes das apresentações. Lembrando que, nunca se deve agradecer com um obrigado, quando alguém lhe desejar “merda”, deve responder apenas “merda” ou ficar calado.
Portanto, merda para todos.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Concentração

A concentração é uma ferramenta indispensável no teatro, no entanto, nem todos temos consciência disso. Como tal, trago uma citação que ilustra muito bem essa importância. Talvez seja uma ajuda para alguns, ehehehe.


"Um mestre Zen comparou certa vez os humanos a marionetas. No momento do nascimento e da morte as suas cordas são esticadas de forma muito apertada ou até repentinamente partidas. Quando se morre, disse, a corda parte-se e, com um som, o boneco colapsa.

O mesmo se passa com os actores quando estão em cena. Tu és um boneco preso e manipulado pelas “cordas” da tua mente. Se o público reparar nessas “cordas”, a representação torna-se desinteressante. Mesmo que necessites de manter uma concentração forte a todo o momento, durante a acção e durante a imobilidade, estas “cordas” nunca podem tornar-se visíveis. O público jamais te pode ver a concentrares-te.

Por outro lado, se a tua concentração vacilar, é como se as cordas do boneco ficassem lassas. A acção fica suja e os espectadores sentem-se a observar um boneco, ao invés de acreditarem que estão mesmo diante de um ser vivo. Da mesma maneira, se a “corda” da concentração do actor tornar-se lassa, a representação não resultará. Só quando se mantiver tensa mas invisível a representação soará verosímil e orgânica: completamente desperta."


OIDA, Yoshi e MARSHALL, Lorna. The invisible actor. London, Metheun, 1997, p. 17.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

E assim foi mais um Curso...

E assim chegámos ao final de mais um Curso da Animateatro. O caminho percorrido foi extenso, árduo, instável… Mas acabou por ser estupendo, por todas as adversidades e consequentes estímulos com que nos deparámos e ultrapassámos, juntos, como grupo unido que somos. Foi lindo de se ver a evolução de cada um, não só exteriormente como também a nível interior. Fico feliz por ter notado todo o conjunto a dar “mais um passo em frente” neste maravilhoso mundo que é teatro. Mas não foi mais que isso, “um passo em frente”, na longa e espinhosa estrada que temos que percorrer.
Quanto á nossa prestação enquanto actores, perante o trabalho que nos foi permitido desenvolver, acho que ainda ficámos a dever muito a este espectáculo. Pode parecer injusto dizer isto, depois de todo o esforço e persistência que foi empenhado neste trabalho, mas perante personagens que padeciam de tanta riqueza por onde explorar, é evidente que ainda ficámos muito aquém do que será a “suposta meta”.
Digo “suposta “porque no teatro, não há limites… Talvez objectivos, limites acredito plenamente que não. E é esse desafio que torna o Teatro tão mágico e fascinante, fazendo-me gostar cada vez mais dele. O facto de se poder dar sempre mais, fazer sempre melhor, ter a liberdade de subir mais e mais alto, presenteando o público com uma prestação cada vez mais possante e verdadeira, nunca havendo um limite ou perfeição. Esta é a discussão que tive com o Nuno muitas vezes, e aproveito agora para o dizer, tinhas razão amigo… Obrigado por me contrariares, ehehehe.
Com isto não quero dizer que o espectáculo não tenha sido bom, aliás, eu acho que chegámos a um nível muito razoável, mas podemos superá-lo, e se temos essa possibilidade, porque não agarrá-la? Temos mais uma oportunidade para dar o nosso melhor e nos superarmos a nós próprios como actores, e é isso que devemos fazer, por respeito a nós e á arte que é o teatro. Isto foi uma das coisas que percebi no final deste Curso, mais uma vez a prova, que com a Animateatro estamos sempre a crescer como actores e pessoas.
Os alunos evoluíram, o grupo evoluiu, um grupo forte, coeso e unido pela amizade e ambições. É desta forma que os grandes actores se formam, com espírito de grupo, trabalho, empenho, persistência e humildade… E acredito indubitavelmente que um dia olharei para trás e pensarei: “Eu tinha razão, eles realmente se tornaram grandes”.
Quanto a todos aqueles que, infelizmente, vão ter que abandonar o Curso da Animateatro, apenas posso dizer para lutarem por aquilo que querem e gostam realmente, seja o que for, só assim se vão conseguir sentir preenchidos interiormente. Espero que voltem um dia, caso contrário, espero encontrar-vos durante o meu trajecto, no futuro. Desejo-vos muito boa sorte.
Pffff, parece que acabei… Achei que era importante olhar para trás e reflectir sobre o que fizemos, o que poderíamos e podemos ainda fazer, mas isto acabou mais por ser um "Diário da Princesa" ehehehe. Para a próxima prometo escrever algo mais decente :D

Beijinhos e abraços do menino bonito da Animateatro :D

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Um "Obrigado" á Animateatro!

E acabou… pelo menos por agora. “Divinas Palavras” umas das peças que talvez mais exigiu de todos, a peça que mais expôs todos os alunos e talvez, a que mais deu a aprender. Vou relatar aquilo que senti, e talvez aquilo que muitos sentiram nesta peça…

Quando li o texto pela primeira vez (ainda sem saber qual o personagem) fiquei meio perplexo, nunca pensei que um texto assim nos fosse entregue. Um texto pesado, possessor cenas fortes, exposição e muito, muito trabalho… Quando recebi o personagem, eu simplesmente ri… Foi um riso de quem simpatizou com o desafio, mas também o de quem ficou "aflito" na altura, acredito que com muitos de vocês se tenha passado exactamente o mesmo, até porque nesta peça, a meu ver, todos os personagens tinham as suas pequenas e grandes dificuldades. O trabalho não foi nada fácil, principalmente durante as primeiras semanas, onde todos andámos meio perdidos, até porque os personagens escolhidos para cada um de nós iam de encontro aos nossos pontos mais fracos, às nossas dificuldades.

Depois de muito trabalhinho, muito treino e de muito termos levado na cabeça ao longo dos ensaios, começámos finalmente a encontrar o “esboço” do personagem, o que já foi um ânimo. O tempo até á Estreia ia apertando, apertando… Quando demos por nós, já só faltavam 3 semanas para a Estreia e ainda agora lhe estávamos a apanhar o jeito, aliás, se bem se lembram, eu fazia questão de referir o tempo que faltava. A maioria não gostava nada da ideia do espectáculo estar próximo, mas eu acho que essa pressão fez com que o trabalho se desenvolvesse de maneira mais rápida e eficiente. Aliás, para mim, não sei se convosco aconteceu o mesmo, as últimas 2 semanas de trabalho valeram tanto ou mais que o tempo de ensaio que já havia passado. De qualquer das maneiras, acho que os personagens foram consolidados e aprimorados nessas últimas semanas… Pudera… Com ensaios até às 3:00 da manhã, ehehehehe. O nervosismo continuava a aumentar, o stress, a pressão, a adrenalina e quando demos por nós, era o dia da “Grande Estreia”. Mesmo nesse dia, havia pormenores a ser acertados… Horas antes, o pessoal batia texto, recapitulava as cenas, concentrava-se… O “espírito de grupo”, que o Nuno tanto fala, e que eu acho que foi um dos pontos fortes desta peça, estava bem aceso… Pormenores acertados, textos batidos, cenas recapituladas, maquilhagem feita, parece que tudo está pronto para a estreia. O medo, nervosismo, ansiedade, impaciência era visível nas nossas caras… Mais uma vez cantámos o “We Are the World”, fomos para o camarim, ouvimos a entrada do público, o coração batia cada vez mais depressa, aquele silêncio, aquele pensamento “será que isto vai correr bem?”… A cada segundo a adrenalina era maior até que… Cada um de nós entrou em cena e mostrou o que valia realmente, e a peça acabou por ser um sucesso e todos fizeram um trabalho excepcional! Nunca pensei que o resultado fosse tão positivo...

Acho que todos nós estamos de Parabéns pelo magnífico trabalho desenvolvido, pela força de vontade demonstrada, pela atitude, pela responsabilidade, pelo empenho e tudo o mais. O caminho foi longo mas valeu bem a pena… O que aprendemos com esta peça? Todos ganhámos competências que não tínhamos, aliás como já referi acima, os personagens exigiam tudo o que não tínhamos mas que no final acabámos por dar, não é por acaso que as pessoas dizem que a evolução foi grande. Os laços de amizade entre todos ficaram mais fortes, sem dúvida alguma, até porque acho que já todos consideram a Animateatro como uma família, uma segunda casa. Os personagens atribuídos a cada um, mais uma vez, permitiram-nos novas vivências, novas experiências… Acho que no final, todo o esforço e trabalho nos trouxe orgulho... Aprendemos muito, evoluímos muito, somos agora mais fortes não só como actores mas como pessoas também. Todos deram o que podiam e isso é fundamental, portanto, todos estão de parabéns. Á Animateatro um obrigado por proporcionar estes momentos… Não digo isto apenas por este espectáculo mas por tudo o que já aprendemos aqui. Bem, não me quero alargar mais, já escrevi mais do que devia e não estou habituado. Em Junho está de volta, com mais acção!

PS: Já agora aproveito para divulgar o espectáculo "A Noite" na Timbre Seixalense dia 2 de Maio (Sábado) pelas 21h30, apareçam lá :D

Cumprimentos reforçados de carinho e amor do vosso Gonçalito/Laureano

Divinas Palavras

No percurso de vida em algum dia seremos invadidos por sonhos, daqueles que nos fazem voar a uma nuvem, daqueles nos fazem viajar nos céus sem cessar.
A ânsia retratada num olhar evergonhado de criança, a quem os olhos brilham. O acreditar de que algo estará para além da cortina diária, o crer no papão e nos monstros que estão em baixo da cama.

Um dia todos sonhamos, um dia todos sonhámos, um dia os sonhos vêm, outro dia os sonhos vão. Mas no intimo ficam os restos, aqueles restos que nos vão fazer sentir saudade, aqueles restos que nos vão em alguns casos trazer uma espécie de choro contido, e quase necessário.
Nós juntos temos percorrido diversas realidades, absorvido diversas vivências, juntos temos criado, juntos temos sofrido, juntos temos chorado.
Amores eternos, memórias de criança e agora vivemos o feio da sociedade, mas juntos.
De tudo vou extrair uma expressão e em letras grandes, Espírito de Grupo. É este sentimento que sempre fez de nós o que somos, é isto que deve ser o caminho, cada um com o seu trabalho, cada um com o trabalho do outro, cada um com o seu personagem, cada um com o personagem do outro, e até ao fim.
Depois...depois, quando o sonho acabar virão as recordações, virão as lágrimas, virão as saudades mas já terá sido a despedida eterna. Até um dia quem sabe...na nossa casa, Animateatro.


"Divinas Palavras" - Onde nos leva a imperfeição...

Divinas palavras estreou no dia 03 de Abril de 2009. Um espectáculo levado a palco pelos alunos da Animateatro. Terá sido um dos trabalhos mais árduos que durou meses e que culminou, numa peça onde a imperfeição reina, pois o lema, ou a frase que resumiria estes meses de trabalho poderia ser mesmo: perfeito e bonito é que não!
O caminho foi delineado assim... dessa forma. Todos em busca da imperfeição de cada um, todos em busca daquilo que é feio em cada um. Como o início deste semestre deixava antever, partiríamos todos numa encruzilhada em busca do grotesco ou do oposto ao belo, e assim foi. Trabalho difícil.
Ensaios diários a certa altura, que nos levaram pela madrugada dentro, ensaios em que Poca Pena dormiu embalada pelas palavras da mulher que buscava diariamente, ensaios em que também a amorfa Simoninha adormeceu, para puder aí nos seus sonhos ser o Trasgo. Cada um da sua forma e com o seu método se esforçou, para que no fim tivéssemos o que temos, e que a meu ver nos enriquece.
Temos vindo a vencer etapas juntos, etapas que na verdade não venceriamos, sem o espirito de grupo que nos vai guiando, algo fundamental para continuarmos no caminho.
Um vez mais levámos
Já foram quatro os espectáculos e quatro evoluções que tivemos, a última desta volta aproxima-se, é já no dia 25 de Abril. Depois virá a 2ª volta em Junho, e então a despedida.